Marielle não demorou muito a se tornar uma referência e dona de um dos telefones mais acionados pelas lideranças de favelas. Algumas vezes ouviu o meu desabafo sobre como era doloroso viver a repetição das angústias a cada nova ligação. Ao menos dez anos se passaram até que, no apagar das luzes de 2016, depois da campanha vitoriosa, recebi o telefonema de Marielle com o convite para fazer parte da Mandata Marielle Franco, minha primeira experiência em um gabinete, e que experiência!
Em pouco mais de um ano vivemos uma construção pulsante, experimentando a cada dia um novo modo de fazer política, colocando “os/as invisíveis” pra dentro daquele palácio no meio da Cinelândia. E isso de muitas formas: projetos de lei, de resolução, homenagens, audiências públicas e a transformação da Comissão da Mulher em importante mecanismo de diálogo com a população feminina da cidade.
Ainda mais marcante foi a experiência daquela equipe de pretas e pretos, lgbts, a primeira mulher trans nomeada na casa, favelados e faveladas andando de cabeça erguida e aquela voz preenchendo o plenário — branco, misógino e completamente alheio ao bem comum.
Marielle Franco era demais para aquele espaço, tão grande que atraiu o ódio destinado àqueles/as dos/das quais esse Estado se envergonha e aniquila com a ausência de direitos. Uma ausência programada e arquitetada todos os dias nos palácios, em todas as esferas.
Com a vereadora Marielle Franco aprendemos a transformar a urgência em mobilização e vimos que é possível incidir na vida das pessoas, ouvindo-as e trazendo-as para perto. Ela deu um passo para um horizonte do qual não retrocederemos até que vejamos a primavera. Tentaram nos calar e amedrontar, mas ampliaram a nossa voz e o desejo de construir um projeto de sociedade em que caibamos todos e todas, vivos. Marielle, presente! Hoje e sempre!