Este livro se propõe como um dos registros possíveis de um experimento transcultural de grande envergadura: a realização da ópera multimídia Amazônia, que transcorreu entre 2006 e 2010. Por seu caráter complexo, envolvendo cosmologias e culturas diversas – a europeia, a brasileira e a yanomami –, pareceu ao autor que a memória do espetáculo poderia interessar não só quem o assistiu em Munique, São Paulo e Viena, mas também os leitores envolvidos com a relação arte-tecnologia-ambiente, ou com as diferentes formas do modo de existência contemporâneo.
A aposta dos protagonistas do experimento foi a de construir uma obra que problematizasse o destino da floresta tropical, que explicitasse a devastação como uma “dor amazônica” afetando cada vez mais a vida de todos nós, humanos e não humanos. Por vias diferentes, o xamanismo e a tecnociência chegaram à conclusão que a morte da floresta deve acontecer, caso continuemos insistindo num modelo insustentável de exploração predatória. Trata-se, portanto, de uma morte anunciada. Os fatos, as análises, as informações, os dados são conhecidos. Mas parece que saber não basta para deter a catástrofe. Por isso, a ópera cantou o Orfeu amazônico – para sentirmos a perda e a iminência da perda.
Amazônia Transcultural discute, num primeiro momento, os princípios e pressupostos conceituais que nortearam a condução do experimento; e, no segundo, os recursos tecno-estéticos que os artistas criaram para e na encenação. O texto Morte do Xamã e as imagens são fragmentos que completam a memória do que foi ouvido, visto, vivido.