Calafrio eleitoral
Peter Pál Pelbart
Quem pode garantir que não estamos à beira do precipício? E quem não sente um calafrio só de imaginar quão medonho seria, se acontecesse, um tal despencamento? Não são os livros que hoje vão nos salvar, claro – só as ruas. Ainda assim, vale o verso do poeta: Onde cresce o perigo, cresce também o que salva. Neste momento em que tudo oscila e o desastre nos espreita, convidamos dez vozes a colocar por escrito ou expressar em áudio o que pensam, como sentem, o que lhes ocorre dizer ou fazer agora. Dez dias, a cada dia uma nova voz. Nas redes da n-1.
Não se trata de convencer ninguém com essas palavras que virão. Não temos ilusão alguma de que o eixo do mundo se desloque a partir de uma editora pequena. Mas não podemos nos furtar à exigência que nos inspira desde o início dessa aventura editorial, qual seja, a de fazer circular minimamente o que merece ser dito, pensado, inventado, publicado, no embate com as forças diabólicas que batem à porta.
Em meio a isso, gostaríamos de preservar uma delicadeza, uma suavidade. Potência da suavidade é o próximo livro que sai pela n-1, da psicanalista e filósofa Anne Dufourmantelle. Sua publicação no Brasil de hoje tem essa intenção: atravessar na diagonal um momento de tamanha belicosidade.
Só podemos torcer para que os danados dessa Terra dita brasileira consigam no dia 30 reaver o que lhes foi surrupiado na calada da noite, dia a dia, no bolso, no corpo, na alma, no horizonte, e a partir daí, virar tudo do avesso.