Diante do genocídio: Carta aberta
Diante do Genocídio: Carta Aberta por Ocasião do Colóquio Organizado por Sciences Po Paris em Homenagem ao filósofo Bruno Latour
De 4 a 7 de dezembro de 2024, Sciences Po Paris organiza um colóquio em homenagem ao filósofo Bruno Latour. Um coletivo de pesquisadores e artistas — entre eles o antropólogo brasileiro Eduardo Viveiros de Castro, a filósofa belga Isabelle Stengers e o editor francês Philippe Pignarre —, todos amigos de longa data de Bruno Latour e convidados a celebrá-lo durante esses quatro dias, protesta contra o comportamento indigno de Sciences Po Paris em relação às mobilizações de denúncia do genocídio em curso em Gaza, lembrando que, mais do que nunca, o meio acadêmico deve ser um espaço aberto ao debate, em vez de participar da invisibilização de um genocídio.
Pesquisadores e companheiros de longa data de Bruno Latour, refletimos com sua obra e, por muitas razões, desejamos participar de um colóquio em homenagem ao homem que ele foi — seu humanismo, seu gosto por debates desafiadores, sua ambição intelectual e sua curiosidade por temas diversos, refletida pela assembleia heterogênea reunida nesta ocasião.
Que Sciences Po Paris honre Bruno Latour é mais do que justo, já que ele construiu a segunda parte de sua carreira nessa instituição. No entanto, à medida que o projeto do colóquio se delineava, ficou claro que as discussões sobre o genocídio em Gaza seriam cuidadosamente evitadas. Nenhum de nós pode falar em nome de Bruno Latour sobre esse tema, mas sentimos que evitar essa questão é indigno, já que ele certamente não teria essa cautela. Se alguém ousou se posicionar e correr riscos, foi ele. Em fidelidade à sua obstinação e em memória dolorosa de tudo o que ele buscou e ousou, recusamos a covardia acadêmica que a universidade contemporânea propõe.
Não podemos intervir publicamente em uma instituição que desqualifica a fala daqueles que defendem a causa palestina e a população libanesa sem nos manifestar. Diante disso, há duas posturas entre os signatários desta carta. Alguns acreditam que ainda é possível manter um diálogo aberto e participarão do colóquio. Outros consideram que as condições para um debate legítimo não estão mais presentes nesse espaço e preferem não participar.
Destacamos ainda nosso apoio às mobilizações estudantis e nossa solidariedade total com colegas palestinos, libaneses e israelenses. Independentemente de participarmos ou não do colóquio, todos nós nos opomos firmemente a qualquer forma de racismo e discriminação e rejeitamos o uso do antissemitismo para justificar o genocídio em Gaza. Não permitiremos que intimidações nos calem.
Assinam: Alexandra Arènes, Charlotte Brives, Deborah Danowski, Grégory Delaplace, Vinciane Despret, Serge Gutwirth, Émilie Hache, Joana Hadjithomas, Antoine Hennion, Pablo Jensen, Khalil Joreige, Philippe Pignarre, Isabelle Stengers e Eduardo Viveiros de Castro.