Mundo, Brasil, 2020: a ficção distópica Black Mirror tende a ser ultrapassada no cenário pandêmico atual. Neste livro, exploramos cinco episódios de Black Mirror para desenvolver complexas questões que o presente nos força a pensar. Pensar a partir de; não sobre. Os episódios analisados funcionam como pontos de partida para o desdobramento de reflexões urgentes. Eis alguns desses estilhaços temáticos: as implicações das práticas de aprovação e exclusão em uma cultura de likes, a disseminação de linchamentos virtuais por contágios de agressividade em redes sociais, expressando-se também na emergência de políticos explicitamente caricatos. A mediação tecnológica comparece igualmente em outro espectro problemático de nosso tempo: a dificuldade de lidar com frustrações, perdas e morte, expressa, por exemplo, na promessa de paraísos hedonistas virtuais e de novos corpos sintéticos e imortais. Ante a complexidade desses problemas, convocamos intercessores, alguns deles provenientes do século XIX: Friedrich Nietzsche, Gabriel Tarde e Henri Bergson. Os tempos aqui se embaralham: nem Black Mirror diz respeito ao futuro, nem nossas ancoragens no século XIX são anacrônicas. Algo se passa no plano da extemporaneidade, nessa nuvem não-histórica, atmosfera de alegria – força maior que também acompanha as perplexidades que a história não cessa de provocar.