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Fernand Deligny

O ARACNIANO E OUTROS TEXTOS

Como existir aos olhos daqueles que não nos olham? A partir de sua experiência singular no cuidado de crianças autistas, o poeta e pedagogo francês Fernand Deligny tateia outros modos de vida: abertos a circunstâncias, repletos de entrecruzamentos, trocas e encontros — um viver em rede, como numa espécie de teia de aranha. Não à toa, Deligny deixou sua marca na obra de Gilles Deleuze e Félix Guattari, sobretudo no conceito de rizoma.

Título: O ARACNIANO E OUTROS TEXTOS
Autor: Fernand Deligny
Tradução: Lara de Malimpensa
Ano: 2015
N˚ de páginas: 256
Dimensões: 16 x 21 cm
ISBN: 978-85-66943-18-4

Ao longo dos quinze ensaios desta coletânea — organizada por Sandra Alvarez de Toledo e com posfácio do psicanalista Bertrand Ogilvie — é possível vislumbrar a radicalidade de seu pensamento, tanto através de sua escrita poética, aforística e aguda, quanto através de suas cartografias — um dispositivo astucioso para desbancar a primazia da linguagem. É nessa abordagem não invasiva, sem interpretação nem “interpelação”, numa distância deliberada em relação à psicanálise, que Deligny percorre o espaço-tempo silencioso no qual habitam crianças que não falam, que vibram diante do brilho da água e que agarram as abelhas pelas asas, sem machucá-las.

Sobre o autor

Conhecido na França como pedagogo, Fernand Deligny (1913–1996) preferia ser chamado “poeta e etólogo”. Durante mais de cinquenta anos trabalhou na isolada região francesa das Cevanas, num centro de acolhimento informal de crianças que não se adaptavam à sociedade: crianças delinquentes, psicóticas, autistas ou, nas palavras do pensador, simplesmente “crianças à parte”. Deligny preferia o termo “etólogo” à educador pois o utilizava como imagem para a sua forma de atuar, buscando, a todo momento, novas maneiras de dar a essas crianças uma oportunidade de sobreviverem em uma sociedade excludente e normativa. Seu método questionava a centralidade da linguagem, a educação formal e o emprego caricatural das teorias freudianas. Repudiava qualquer tipo de encarceramento, preferindo a criação de circunstâncias e de espaços para trocas e encontros. Para dar voz àqueles que são carentes de linguagem e comunicação verbal, Deligny inventou um sistema de transcrição que considerava uma de suas principais contribuições, espécie de cartografia sobre papel na qual registrava os percursos “espontâneos” da criança autista, seus hábitos, gestos e percepções, livres de qualquer desejo de representação. É desse fora da linguagem cotidiana, numa espécie de linguagem do infinitivo, sem sujeito, que o autor francês rompeu com os paradigmas de sua época e criou uma antropologia alternativa, política, a qual inventou incessantemente formas inéditas de viver junto. Por esse e por tantos outros motivos é que sua obra desperta um interesse crescente, não só em clínicos e educadores, mas também em literatos, artistas e filósofos.
A prática da escrita foi uma constante na vida de Deligny e o laboratório permanente de sua atuação como educador. Escreveu mais de uma centena de ensaios, artigos, scripts e contos que se somam a fotografias, desenhos, mapas e filmes, entre os quais Ce gamim, là (1976) e Le moindre geste (1971). Em 2007, Sandra Alvarez de Toledo reuniu e publicou num volume imponente parte significativa da produção textual de Deligny (Œuvres, Paris: L’Archanéen, 1850 pps.)