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30 de Outubro 2022 – A 25ª Hora

Laymert Garcia dos Santos

Em vídeo recente, Noam Chomsky advertiu que o que está em jogo nas eleições presidenciais brasileiras é nada menos que o futuro da espécie humana. Atenção:o linguista norte-americano não costuma ser catastrofista nem dado a exageros. Mais do que isso: é homem extremamente atento ao valor e ao peso das palavras. Então, é preciso ouvi-lo. E seria mais do que temerário ignorá-lo.

Chomsky considera a eleição de Bolsonaro o fim não de um mundo ou de uma era, mas o fim do mundo humano. Por uma razão muito simples e fácil de entender: sabe-se, cientificamente, que a Amazônia não aguenta mais quatro anos de devastação acelerada, atingindo, entretempos, o “ponto de não retorno” que conduz inexoravelmente à desertificação. Com ela, à explosão do aquecimento global.

Não se trata de um ponto de vista ou uma opinião, mas de um fato embasado cientificamente, já estabelecido há mais de duas décadas, quando os especialistas trocaram de pergunta: em vez de se indagarem se haveria desertificação caso a devastação continuasse nos moldes do início do milênio, passaram a se perguntar quando isso iria ocorrer.

Ora, os quatro anos de bolsonarismo intensificaram loucamente as queimadas…e ninguém acredita que elas vão diminuir caso Bolsonaro seja reeleito. Assim, nestas eleições, os brasileiros se encontram diante de uma escolha absurdamente vital, não só para eles, mas para a humanidade como um todo, pois o plano em que nos encontramos está muito além dos tradicionais dilemas entre democracia e fascismo, bem-estar social e neoliberalismo, progressismo e regressão, civilização e barbárie. Pensando bem, a escolha, agora, se equipara ao dilema entre desarmamento e armas de destruição em massa, paz e guerra nuclear.

Mas, se é disso que se trata, como entender o alheamento quase total da população brasileira, a começar pela estupidez e ignorância de suas miseráveis elites? Como desconsiderar a monstruosa irresponsabilidade de nossa conduta e o fardo da responsabilização que recairá sobre nossos ombros quando ficar evidente para o mundo inteiro que fizemos a escolha errada e empurramos a espécie para a morte? Como poderemos nos furtar às consequências de nossos atos tresloucados? Quem vai nos defender – vale dizer nos salvar – do opróbio mundial e das sanções que ele deve suscitar quando essa conta for cobrada?

Os brasileiros não se dão, nem querem se dar conta, do preço a pagar por sua alienação, por sua conduta demente. Os brasileiros se comportam como se estivéssemos numa situação normal, anódina, num país qualquer: definitivamente, parecem não perceber as implicações catastróficas do que podem estar armando para si mesmos… e para todos os outros. Os brasileiros não querem ser confrontados com a faca que o destino planetário colocou em seu peito de modo incontornável pelo fato de boa parte da floresta amazônica se encontrar em território nacional. Que ironia! O destino nos reservou a Amazônia como um tesouro; mas nós corremos o risco de transformar esse legado no mal absoluto, e na nossa desgraça.

Considerando a questão dessa perspectiva, não há como não conceber os milhões e milhões de brasileiros que escolhem Bolsonaro como um imenso exército de zumbis. Com efeito, é aterrorizante perceber que estamos aprisionados num pesadelo apocalíptico, que precisamos disputar a possibilidade de futuro com hordas de mortos-vivos que se encontram no meio de nós. Não há argumento, razão, sentimento, afeto, gesto afirmativo que possa atingir e desarmar a mobilização total dos zumbis. Tudo se passa como se já tivessem ultrapassado o limite, já se encontrassem no terreno da morte – de depois do fim. Como se estivessem voltando ao mundo para nos caçar, para acelerar e antecipar essa espécie de Juízo Final na Terra, que é o seu êxtase e a consumação do seu niilismo absoluto.

Cabe aos brasileiros que querem viver desmontar essa bomba atômica do aquecimento global. Está nas nossas mãos, e o início desse processo tem data marcada: 30 de outubro de 2022, a 25ª. Hora. Tarde demais? Não. Última chance.